CÂMARA APROVA PROJETO DO SENADO QUE
NÃO OBRIGA USO DOS ROYALTIES DO
PETRÓLEO EM EDUCAÇÃO
Os deputados federais aprovaram, na noite desta terça-feira (6), a
íntegra do projeto aprovado no Senado sobre divisão dos royalties do
petróleo, rejeitando o substitutivo do relator do assunto na Câmara dos
Deputados, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), proposta defendida pelo
governo federal. Agora, o projeto vai para sanção ou veto da presidente
Dilma Rousseff.
Por 286 votos a favor e 124 contra, a Casa aprovou o texto-base do
Senado, de autoria do relator Vital do Rêgo (PMDB-PB). Todos os
destaques apresentados por deputados para alterar a proposta do Senado
foram rejeitados.
Na proposta aprovada, as mudanças sugeridas por Zarattini, como a
obrigatoriedade do uso dos royalties para investimento em educação e o
percentual distribuído para os entes federativos, foram rejeitadas.
Na versão do Senado, não há especificação do quanto será destinado para
cada área, e apenas são citados os setores beneficiados com os recursos
dos royalties. São eles "educação, infra-estrutura social e econômica,
saúde, segurança, programas de erradicação da miséria e da pobreza,
cultura, esporte, pesquisa, ciência e tecnologia, defesa civil, meio
ambiente, programas voltados para mitigação e adaptação às mudanças
climáticas e para o tratamento e reinserção de dependentes químicos."
A expectativa antes da sessão era de que os deputados votassem o
substitutivo proposto pelo deputado petista, mas, por 220 votos a favor,
211 contra e uma abstenção, os parlamentares decidiram usar o texto do
Senado como referência.
Mudanças
Pelo texto de Vital do Rêgo, que foi aprovado no Senado em outubro do
ano passado, a União tem sua fatia nos royalties reduzida de 30% para
20% já em 2012. Para os Estados produtores, a participação cai de 26,25%
para 20%.
Já os municípios produtores (confrontantes) são os que sofrem maior
redução: de 26,25% passam para 17% em 2012 e chegam a 4% em 2020. Os
municípios afetados pela exploração de petróleo também sofrem cortes: de
8,75% para 2%.
A proposta do senador paraibano prevê ainda que todos os Estados e
municípios --incluindo produtores e não-produtores-- dividiram 40% dos
royalties do petróleo, ante 8,75% da proposta anterior.
O substitutivo prevê também a redistribuição da participação especial.
Neste caso, a União, mais uma vez, abre mão de parte de seus recursos.
Os 50% a que tem direito hoje passam a ser 42% em 2012. A partir daí,
com a expectativa de aumento das receitas, a União volta a ter sua
alíquota ampliada ano a ano, até chegar aos 46% propostos inicialmente
pelo governo.
Motivos da reviravolta
Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a mudança
do texto da Câmara com relação ao do Senado foi consequência da pressão
da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) em cima dos prefeitos e
destes em relação sobre os parlamentares de seus Estados.
“É fácil defender municípios [em referência ao argumento da CNM]. Os
parlamentares dependem de votos e ninguém quer sequer parecer que está
contra os interesses dos municípios, mas contraditoriamente, podem
estar", afirmou Chinaglia
Já o relator do projeto na Câmara, Carlos Zarattini, fez declarações
indignadas sobre o assunto. “Eles [a CNM] apresentaram falsas tabelas e
engaram os prefeitos e diziam que não haveria perdas [com texto do
Senado]”, afirmou.
Procurado pela reportagem, o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, não
retornou aos contatos. No entanto, em entrevista à agência CNM, ele
afirmou que a proposta de Zarattini retirava do fundo especial
(destinado para todos Estados e municípios com base no FPM e FPE) mais
de R$ 9 bilhões no período de 2013 e 2015. “No mesmo período, o Fundo de
Participação dos Estados e Municípios perderia o equivalente a mais de
R$ 4,5 bilhões”, argumentou em entrevista à agência.
Para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a decisão tomada foi
soberana e "distribui os royalties e que dá aos Estados e municípios as
condições de aplicar esses royalties em ciência e tecnologia, saúde,
infraestrutura e também em educação”.
“Não estou dizendo que a proposta é melhor, eu estou dizendo que foi a
proposta que dialogou com a maioria do Parlamento. E ela é um avanço em
relação à proposta anterior que nós tínhamos que era a emenda Ibsen, que
significava uma distribuição muito maior dos royalties do petróleo. O
acordo fechado no Senado já foi um acordo que avançou, que permitiu que
houvesse uma distribuição melhor, mais equilibrada”, avaliou Maia.
Questionado se, ao contrariar o Planalto na votação, os parlamentares
não estariam manifestando uma perda de apoio ao governo Dilma, Maia
desconversou. “O Congresso não abdicou do seu direito e da sua
prerrogativa de votar a partilha dos royalties. Isso é que é importante.
Agora nós entramos numa outra fase que é a análise que o governo deve
fazer, os vetos que deve produzir, e como esses vetos deverão ser
encarados e discutidos pelo Parlamento no futuro."
Divisão da produção do petróleo por Estado
Rio de Janeiro | 75% |
Espírito Santo | 14,1% |
Rio Grande do Norte | 3% |
Bahia | 2,2% |
Sergipe | 2% |
Amazonas | 1,7% |
São Paulo | 1,5% |
Ceará | 0,3% |
Alagoas | 0,2% |
- Fonte: ANP (Agência Nacional do Petróleo)
Proposta da Câmara
Com intuito de diminuir as possíveis distorções da divisão dos recursos
dos royalties do petróleo entre Estados e municípios produtores,
Zarattini havia decidido nesta terça-feira (6) recalcular a
distribuição, aumentando a destinação para os Estados produtores.
O aumento para os Estados seria percebido ao longo dos anos, pela
proposta de Zarattini. O deputado trabalhou com as projeções das
distribuições de 2011 até 2020. Na primeira versão do projeto dele, os
Estados produtores ficariam, em 2020, com 11% do recebimento dos
royalties ante os atuais 26,25%.
Com a mudança, em 2020, os Estados
produtores vão receber 20%.
Atualmente, a divisão é a seguinte: 30% dos royalties ficam com a
União; 26,25% com os Estados produtores; 26,5% com os municípios
produtores; 8,75% com os municípios afetados (que sofrem com carga e
descarga da produção), e o restante, 8,75%, é dividido entre os todos os
Estados e municípios, conforme preveem as regras do FPM (Fundo de
Participação dos Municípios) e do FPE (Fundo de Participação dos
Estados), que se baseiam em indicadores sociais para pagar mais aos
Estados e municípios mais pobres em detrimento dos mais ricos.
A nova proposta de Zarattini previa que, em 2013, que a União fique com
20%; Estados produtores, 20%; municípios produtores, 13%; municípios
afetados, 7%, e os 40% restantes serão divididos igualmente entre todos
os Estados e municípios, sendo 20% pelas regras do FPM e 20% pelas
regras do FPE.
O aumento dos Estados só foi conseguido pela diminuição do que era
destinado aos municípios produtores. Hoje, eles recebem 26, 25%. Em
2020, receberão 4%. Na proposta anterior, Zarattini estipulava 11% para
os municípios produtores.
Com relação à participação especial, o texto de Zarattini alterou
pontos do acordo fechado com a equipe econômica do governo em 2011 e
reduziu ainda mais a parcela da União. O acertado era de que, já em
2013, a participação especial do governo cairia de 50% para 42%, mas
Zarattini baixou para 40% como percentual, mas até 2020, o percentual
será de 46%.
Os Estados e municípios produtores terão o montante em participação
especial reduzido para 30% e 7%, respectivamente a partir de 2013. Até
2020, quando chegarão a 20% para os Estados produtores e de 4% para os
municípios produtores.
Já os não produtores passarão a receber, já em 2013, 23% dos recursos e, em 2020 receberão 30%. Os recursos da União e dos entes não produtores terão como destino aos investimentos em educação.
Já os não produtores passarão a receber, já em 2013, 23% dos recursos e, em 2020 receberão 30%. Os recursos da União e dos entes não produtores terão como destino aos investimentos em educação.
Educação
Enquanto o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, pedia todo o
recurso dos royalties do pré-sal e do pós-sal para a educação, o relator
da Câmara acolheu parte do pedido.
Para os royalties obtidos com a exploração de novos poços, pelo regime
de partilha, o recurso vai todo para a educação, seja o percentual da
União, dos Estados e municípios produtores ou não. Zarattini, porém,
quis ressalvar a utilização independente do recurso dos Estados e
municípios produtores e não vinculada aos investimentos em educação,
isso em poços já licitados.
Divisão dos royalties do petróleo
Como é hoje | Como fica com a proposta aprovada no Congresso para os poços já licitados | Como fica com a proposta aprovada no Congresso para os poços a serem licitados |
União: 30% das receitas dos royalties | União - 20% | União - 22% |
Estados produtores: 26,25% | Estados produtores: 20% | Estados produtores: 22% |
Municípios produtores: 26,25% | Municípios produtores: 17% | Municípios produtores: 5% |
Municípios afetados*: 8,75% | Municípios afetados: 3% | Municípios afetados: 2% |
Restante: Os 8,75% restantes são distribuídos para todos os municípios e Estados da federação, 7% conforme as regras do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e 1,75% do FPE (Fundo de Participação dos Estados), que consideram os indicadores sociais e pagam mais aos Estados e municípios mais pobres em detrimento dos mais ricos. | Restante: Os 40% restantes são distribuídos para todos os municípios (20%) e Estados (20%) da federação, conforme as regras do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e do FPE (Fundo de Participação dos Estados). Os fundos consideram os indicadores sociais e pagam mais aos Estados e municípios mais pobres em detrimento dos mais ricos | Restante: Os 49% restantes são distribuídos para todos os municípios (24,5%) e Estados (24,5%) da federação, conforme as regras do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e do FPE (Fundo de Participação dos Estados). Os fundos consideram os indicadores sociais e pagam mais aos Estados e municípios mais pobres em detrimento dos mais ricos |
- *Municípios afetados: locais que sofrem com carga e descarga da produção entre outros problemas decorrentes da exploração do petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos
- ***Assim como o texto da Câmara, o projeto de Vital prevê mudanças progressivas nos percentuais até 2020
- Fonte: UOL Economia
Camila Campanerut
Do UOL, em Brasília
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